Por Marta Nogueira e Fabio Teixeira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras teve um prejuízo líquido de 2,6 bilhões de reais no segundo trimestre, configurando seu primeiro resultado negativo desde o terceiro trimestre de 2020, principalmente por impactos tributários e cambiais, informou a petroleira nesta quinta-feira.
No mesmo período do ano passado, a companhia havia registrado um lucro líquido de 28,8 bilhões de reais, enquanto no primeiro trimestre seu resultado líquido foi de 23,7 bilhões de reais.
Os principais impactos no resultado, segundo a companhia, foram contábeis, diante de uma adesão a um acordo para encerrar uma disputa tributária com o governo e a variação cambial do período.
"O resultado líquido do trimestre deve ser analisado à luz de eventos que impactaram o resultado contábil, mas sem impacto relevante no caixa da empresa", afirmou no relatório o diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Fernando Melgarejo.
A Petrobras afirmou que teve "forte" geração de caixa no segundo trimestre de 2024, registrando Fluxo de Caixa Operacional (FCO) de 47,2 bilhões de reais, superior ao observado no primeiro trimestre do ano.
Em junho, a companhia havia anunciado que teria um impacto de 11,9 bilhões de reais no resultado líquido do segundo trimestre diante de adesão da companhia a um acordo para encerrar disputa tributária envolvendo Cide, PIS e Cofins entre os anos de 2008 e 2013.
Somado a isso, a companhia destacou ter registrado impactos devido à variação cambial, sem efeito no caixa da companhia.
Dessa forma, o lucro recorrente foi de 15,7 bilhões de reais, mas ainda abaixo das expectativas dos analistas de 22,3 bilhões de reais, segundo dados do LSEG.
O lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) ajustado totalizou 49,7 bilhões de reais entre abril e junho, queda de 12,3% versus o mesmo período de 2023.
Na comparação com o primeiro trimestre, o Ebitda ajustado recuou 17%, influenciado por menores margens de diesel e gasolina, aumento das importações e de itens não recorrentes, com destaque para os efeitos do acordo de trabalho de 2023 e da adesão à transação tributária.
Esses efeitos foram parcialmente compensados pelo aumento das receitas com exportações decorrente, principalmente, da valorização do petróleo Brent.
No segundo trimestre, o custo dos produtos vendidos aumentou 7% em comparação com os primeiros três meses do ano, refletindo os maiores custos com petróleo e derivados importados, retratando a valorização das cotações no momento da formação dos estoques, e a maior participação do petróleo importado na carga processada nas refinarias e do derivado importado no mix das vendas.
A receita de vendas da petroleira somou 122,3 bilhões de reais no segundo trimestre, alta de 7,4% na comparação anual e avanço de 3,9% versus o trimestre anterior.
A empresa havia reportado no mês passado que sua produção de petróleo no Brasil cresceu 2,6% entre abril e junho ante igual período do ano passado, principalmente devido ao avanço operacional de plataformas que entraram em operação ao longo de 2023.
A Petrobras produziu média de 2,16 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) no país no segundo trimestre, versus 2,1 milhões de bpd nos mesmos três meses de 2023, informou a empresa em seu relatório de produção e vendas.
A companhia encerrou o segundo trimestre com uma dívida bruta de 59,6 bilhões de dólares, alta de 2,9% em comparação com igual período do ano passado e dentro do intervalo de referência entre 50 bilhões e 65 bilhões de dólares.
DIVIDENDOS E INVESTIMENTOS
Apesar do prejuízo líquido, a Petrobras informou nesta quinta-feira que seu conselho aprovou o pagamento de dividendos intercalares e intermediários e juros sobre capital próprio (JCP) no valor de 13,57 bilhões de reais, equivalentes a 1,05320017 real por ação ordinária e preferencial em circulação.
Para o pagamento, a companhia utilizará 6,4 bilhões de reais da reserva de remuneração do capital, resultando em um saldo remanescente de 15,5 bilhões de reais nesta reserva.
Essa reserva, que foi criticada à época de sua criação, já que investidores consideraram que ela impactava os dividendos, agora permitiu a remuneração ao acionista em um trimestre no qual a companhia teve um resultado negativo.
A Petrobras comentou que, em uma visão acumulada do semestre, a aplicação da fórmula da política de remuneração ao acionista retorna um total de pagamento de proventos de 27 bilhões de reais, patamar superior ao resultado acumulado disponível do semestre (20,6 bilhões de reais), o que levou ao uso da reserva.
Enquanto teve prejuízo trimestral e viu sua reserva estatutária cair, a Petrobras também cortou projeção de investimentos para 2024.
Agora a Petrobras projeta investir entre 13,5 bilhões e 14,5 bilhões de dólares neste ano, versus projeção anterior de 18,5 bilhões de dólares, com um ajuste no capex do segmento de Exploração e Produção (E&P), o principal da empresa, que afirmou ainda não ver impacto na curva de produção de petróleo apesar do corte nos aportes.
(Reportagem adicional de Andre Romani, Patrícia Vilas Boas e Rodrigo Viga Gaier)
Fonte: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/politica-economia/382510-petrobras-tem-1o-prejuizo-em-quase-4-anos-no-2-tri.html